domingo, 16 de setembro de 2012

Educação: sempre lembrada nas campanhas eleitorais, mas é eternamente esquecida pelos eleitos 

Marcos A. Pedlowski, artigo publicado no número 261 da Revista Somos Assim


Agora que estamos em meio a mais uma campanha eleitoral, candidatos dos mais variados matizes ideológicos aparecem citando a questão da educação como sendo um ponto chave a ser abordado num eventual mandato. E não, essa preocupação cíclica com a situação educacional brasileira não está restrita às eleições municipais. Quem não lembra quando Dilma Rousseff prometeu melhorar a situação salarial dos professores universitários que haviam sido esquecidos no segundo mandato de Lula? E o que fez Dilma após ser eleita? De prático, se negou a cumprir os acordos feitos com os servidores das instituições federais, inviabilizando qualquer diálogo e impondo um péssimo acordo a partir de um pseudo-sindicato que é liderado por militantes do PT e do PC do B. 

Nada mais emblemático do governo Dilma do que a declaração de Guido Mantega quando se manifestou veementemente contra a aplicação de 10% do orçamento federal na área da educação. Mantega chegou a afirmar que tal investimento na educação quebraria o Brasil. Mas o que o ministro da Fazenda esqueceu-se de informar é que até o mês de julho de 2012, cerca de 50% do orçamento federal foi gasto com pagamentos de juros da dívida pública a um sistema financeiro que é um dos que mais lucram em toda a economia mundial. Mas uma coisa a declaração de Guido Mantega teve de mérito, qual seja, demonstrar de maneira cabal que os discursos de campanha de Dilma Rousseff eram só isso, discursos. O fato é que enquanto as elites gostam de alardear a nossa lustrosa situação de sexta maior economia do planeta ao mesmo tempo fazem questão de indicar que na área educacional estamos num condição trágica, ocupando apenas o 88º lugar. 

E se olharmos um pouco mais para o nosso próprio umbigo, poderemos ainda verificar que o estado do Rio de Janeiro ocupa atualmente a vexaminosa condição de ter uma educação básica melhor apenas do que a do paupérrimo Piauí. Mas não há nada que esteja tão ruim que não possa piorar. Em uma recente visita ao campus da Uenf, o deputado Comte Bittencourt, presidente da Comissão de Educação da Alerj, deixou um auditório cheio de pessoas completamente estupefatas ao descrever as medidas excludentes que o governo Sérgio Cabral está utilizando para melhorar os índices educacionais do Rio de Janeiro. Para quem ingenuamente pensava que os pífios resultados do IDEB haviam criado algum sentido de urgência no governo estadual, Comte Bittencourt revelou que as principais medidas que foram adotadas pela secretária estadual de Educação para melhorar os índices incluíram desde o fechamento de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) à ampliação das dificuldades para a presença de estudantes com necessidades especiais nas escolas estaduais. Assim, sem pudor algum, foi assim que o Rio de Janeiro saiu da 26ª para a 15ª posição em nível nacional. 

Quando descemos um pouco mais essa ladeira podemos ver que nos resultados de 2011 do IDEB, as escolas municipais de Campos dos Goytacazes ficaram exatamente na 92ª colocação, ou seja, a pior posição entre todos os municípios fluminenses. E com um orçamento municipal de mais de R$ 3,5 bilhões, o problema das escolas de Campos não tem nada a ver com falta de recursos. Como em todos os níveis de governo, o problema que aflige os profissionais de ensino é a falta de um projeto político que permita um salto de qualidade em um sistema educacional que há muito tempo dá sinais claros de uma crise que mistura elementos crônicos e agudos. 

A pergunta que toda pessoa minimamente sensível se faz é de porque estamos tão mal na educação. Como já apontei, o problema aqui não é falta de recursos. Em que pese a pobreza da maioria da nossa população, é evidente que vivemos dentro de uma economia importante no cenário mundial. A questão essencial, e que raramente é debatida com franqueza, é o porquê se faz a opção de manter a maioria da nossa população imersa em um sistema educacional tão precário. Florestan Fernandes, um dos maiores intelectuais brasileiros e que tinha uma preocupação especial com as questões educacionais, costumava dizer que se o povo brasileiro fosse mais educado, não toleraria calado tantos desmandos e tantas indignidades cometidas contra seus direitos básicos. Eu arrisco ainda a dizer que a maioria do nosso povo é mantida em condições tão precárias de educação porque isto favorece a reprodução de relações sociais que nos mantém na condição de um país eternamente ancorado no passado escravocrata. 

Um elemento que devemos contemplar com seriedade é se estamos dispostos a assistir impassíveis à falta de um modelo educacional que possa realmente despertar as grandes potencialidades que nosso povo claramente possui. E aqui não há como deixar de apontar o fato de que adotar o comportamento de políticos em campanha não é suficiente. Afinal, todos dizerem que querem melhorias nas escolas é muito fácil. O que eu quero ver é se na hora de decidirmos quem vamos eleger, qual será a prioridade à educação pública de qualidade.