quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Carvão dissolvido em rios e oceanos pode ter origem antiga

Estudo publicado na Nature Geoscience indica que queimadas históricas na mata atlântica ainda lançam carbono nas águas

MARIA GUIMARÃES


Queimada em área de mata atlântica

O carvão que chega às águas dos rios e dos oceanos pode não ter origem apenas nas fogueiras que hoje queimam florestas e plantações. Um estudo publicado neste domingo (12 de agosto) no site da Nature Geosciencesugere que o carbono gerado em queimadas fica armazenado por décadas e até séculos no solo, sendo aos poucos liberado para os rios.

“Fizemos a conta de todas as fontes possíveis de carbono e o que encontramos na bacia do rio Paraíba do Sul é muito maior”, comenta o biólogo Carlos Eduardo de Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Ao longo de um projeto de longa duração, entre 1997 e 2008, a cada duas semanas ele e sua equipe coletaram amostras de água do rio Paraíba do Sul, cuja bacia banha uma área de 55.400 quilômetros quadrados nos estados do São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em parceria com Thorsten Dittmar, do Instituto Max Planck, na Alemanha, ele analisou as amostras de água e obteve estimativas de quanto carbono está dissolvido nas águas. A surpresa foi encontrar uma carga entre 3 e 16 vezes maior do que pode ser explicado pelas queimadas atuais. Segundo seus cálculos, a cada ano é produzida uma média de entre 190 e 740 toneladas de carbono negro nessa região.

Rezende se interessou por estudar essa área por ser emblemática da perda de mata atlântica: hoje resta apenas 10,7% de uma superfície que já foi inteiramente floresta. É exatamente essa história que explica o desencontro entre os números: entre os anos 1850 e 1973, quase toda a mata atlântica da região foi eliminada por queimadas. Para os pesquisadores, boa parte do que detectaram tem origem nesse fogo histórico. “O carbono dissolvido é um indicador da influência do homem no ciclo natural desse elemento”, explica.

Alterações dessa dimensão, ele se preocupa, podem interferir nas funções metabólicas dos organismos que vivem nas águas, tanto dos rios como do oceano onde eles desembocam. O próximo passo é conseguir obter uma datação do carbono contido nas amostras, para distinguir com segurança a contribuição histórica e a atual para essas alterações químicas nas águas.