sábado, 14 de julho de 2012

ARTICULISTA DA BLOOMBERG DISSECA O FIM DO "SONHO" DE EIKE BATISTA



O artigo abaixo do jornalista Alexander Cuadros faz uma boa análise das idas e vindas de Eike Batista, apesar de confundir os sonhos de Eike com os do Brasil. Quem ler com cuidado a matéria notará que as ações das empresas da franquia "X" retomaram apenas parte do valor que perderam com a crise de credibilidade da OG (X) que arrastou todas as empresas do Grupo EBX para o buraco. De quebra, Alexander Cuadros disseca alguns dos truques que Eike utilizou para sobrevalorizar as suas empresas.


Ah sim, o artigo termina com uma análise cruel sobre o Porto do Açu que foi lançado em 2010 por Eike como uma promessa de ser uma estrada para a China. O problema para Eike é que a China agora entrou em recessão e ameaça deixar as toneladas de ferro extraídos em Minas Gerais literalmente encalhadas.


Dai a matéria renova aquela velha questão: e ai Eike, vai entregar?

Perda de US$ 15 bi por Eike marca fim de sonho brasileiro

Dizem que o Brasil é o país do futuro. Nos últimos seis anos, Eike Batista tentou vender a ideia de que o futuro chegou ao nosso país. Agora, o empresário enfrenta perdas


Alexander Cuadros, da 
Eike Batista: aos 55 anos, ele se tornou o homem mais rico do país aproveitando uma onda de otimismo em relação às perspectivas locais

São Paulo - Quando Eike Batista fazia propaganda dos US$ 6 bilhões em ofertas de ações nos últimos seis anos, ele estava vendendo mais do que suas novas empresas interligadas no setor de commodities. Ele estava vendendo o Brasil.

É por isso que, quando a petrolífera do bilionário reduziu as metas de produção menos de seis meses após extrair o primeiro barril -- ampliando uma onda de vendas que eliminou US$ 15 bilhões do patrimônio dele e US$ 21 bilhões em valor de mercado em três meses --, os investidores também questionaram a visão do empresário sobre o Brasil como novo motor da economia mundial.

Eike, 55 anos, tornou-se o homem mais rico do país aproveitando uma onda de otimismo em relação às perspectivas locais, que culminou com a expansão de 7,5 por cento do produto interno bruto em 2010. Sob o comando da Presidente Dilma Rousseff, o crescimentoeconômico está estacionado pelo segundo ano seguido. A expansão projetada para 2012 é de 2 por cento, o pior desempenho entre os BRIC, grupo que inclui também Rússia, Índia e China.

“O que está acontecendo com o Eike agora infelizmente é reflexo do que está acontecendo com o país como um todo”, disse Simon Nocera, que já foi economista do Fundo Monetário Internacional e hoje preside a Lumen Advisors LLC em São Francisco, na Califórnia. “É mais um daqueles cenários de crescer e se retrair do passado.”

Com os preços das commodities entrando no chamado bear market, ou tendência de queda, no mês passado, economistas participantes das sondagens do Banco Central vêm reduzindo suas projeções de crescimento econômico este ano há nove semanas. O Ibovespa acumula queda de 23 por cento desde o fim de 2010, sendo que a OGX Petróleo & Gás Participações SA, de Eike, está entre as maiores perdedoras.


Ranking de bilionários

A determinação de Eike segue inabalada. Após as ações de suas seis empresas com capital aberto terem recuperado parte da desvalorização neste mês, o patrimônio líquido do bilionário avançou de US$ 19,6 bilhões em 28 de junho para $20,7 bilhões, de acordo com o Índice Bloomberg de Bilionários. Ele é a 21ª pessoa mais rica do mundo.

“Minha fortuna está nos meus ativos”, escreveu Eike em seus Twitter, que tem quase 1 milhão de seguidores, em 1º de julho. “Como não vendi uma só ação, não perdi nada!”

Em nota enviada por e-mail, o Grupo EBX, holding das empresas de Eike, disse que as companhias têm recursos suficientes para executar um plano de investimentos de US$ 15,7 bilhões. Apesar de a MMX Mineração & Metálicos SA, empresa de capital aberto mais antiga do grupo, não ter dado lucro em 2011, sua produção ficou em 7,5 milhões de toneladas de minério de ferro. A OGX, mesmo sem cumprir metas, saiu de sua criação até a fase de produção em menos de cinco anos, o que Eike chamou de “recorde mundial”.

Castigo do mercado

“Esses retrocessos acontecem”, disse Laurence Balter, que supervisiona US$ 100 milhões na Oracle Investment Research, sediada em Fox Island, no estado americano de Washington, e que aumentou suas aplicações na OGX após a queda dos papéis. “O Eike falou demais mais de uma vez, e está sendo castigado pelo mercado por isso.”

Durante os dois mandatos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2010, milhões de pessoas deixaram a pobreza com a expansão da economia, queda dos juros e melhora das contas públicas. A pontuação do Ibovespa se multiplicou por seis. O crescente apetite da China por commodities elevou os lucros das maiores empresas brasileiras: a mineradora Vale SA e a Petróleo Brasileiro SA.

Eike prometeu concorrer com as duas gigantes fundando suas próprias empresas e contratando para os principais cargos executivos da Petrobras e da Vale -- incluindo seu pai, Eliezer, que foi ministro das Minas e Energia e presidente da Vale. Eike, que disse em abril de 2010 que Lula “caminha sobre a água”, contou com empréstimos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, além de dinheiro de investidores privados.


IPOs de empresas

Os dois maiores sucessos dele ocorreram no primeiro semestre de 2008, quando os preços do petróleo e do minério de ferro chegaram perto de níveis recodes: a abertura de capital da OGX, que movimentou R$ 6,7 bilhões, e a venda do projeto Minas-Rio para a Anglo American Plc. por US$ 5,5 bilhões. A OGX também se beneficiou do otimismo com a maior descoberta de petróleo no continente americano desde 1976 -- o Campo de Tupi, depois rebatizado Lula.

A euforia com o futuro do Brasil começou a esfriar no início de 2010. Alimentada pelo crédito, a virada por cima após a recessão de 2009 trouxe o temor de superaquecimento -- exatamente quando Eike se preparava para vender ações da OSX Brasil SA. O estaleiro acabou levantando somente um quarto do que ele esperava inicialmente, diante do ceticismo dos investidores em colocar dinheiro numa empresa cujo principal ativo era a garantia de encomendas da OGX -- que ainda não havia produzido uma gota de petróleo.


"Muito envolvente"

Ambas as empresas não conseguiram cumprir as metas traçadas por de Eike para iniciar as operações. A ação da OSX hoje é negociada por menos de um terço do preço da venda inicial, enquanto a OGX é negociada por menos da metade do preço da abertura de capital.

O projeto de minério de ferro Minas-Rio -- hoje o maior da Anglo American -- também decepcionou as expectativas. Enfrentando processos judiciais e os custos em disparada, o projeto só deve começar a produzir em 2013, sendo que a ideia inicial era começar em 2010.

“Não sai em 2026”, disse João Carlos Cavalcanti, que foi sócio de Eike num negócio de minério de ferro que mais tarde foi englobado pela MMX. “O Eike falou que tem 750 milhões de toneladas de minério, mas não tem 150 milhões. Foram pelos olhos azuis do Eike. Ele é muito envolvente.”

O geólogo, que agora desenvolve depósitos de elementos químicos conhecidos como terras raras no Nordeste, acusa Eike na Justiça de não investir o que foi acertado na joint venture. “O cara é uma bolha”, disse Cavalcanti.

A EBX não quis comentar as alegações de Cavalcanti. A MMX se referiu ao processo em um comunicado ao mercado, dizendo que a chance de perder a causa era “provável”.

Pagamento de dividendos

Em seis anos, as seis empresas de capital aberto de Eike só fizeram um pagamento de dividendo -- e por causa de um ganho financeiro extraordinário. Ainda assim, a falta de dinheiro não impediu Eike de diversificar para uma série de novos empreendimentos de capital fechado, desde tecnologia até imóveis, esportes e gestão de eventos musicais.

No auge, o patrimônio de Eike chegou a US$ 34,5 bilhões em 27 de março, após ele vender uma fatia de 5,6 por cento na EBX para a Mubadala Development Co., de Abu Dhabi, por US$ 2 bilhões.


Grande vendedor

Apesar de aumentar sua fortuna pessoal, o acordo fez pouco no sentido de acalmar os acionistas. As ações continuaram desabando mesmo após Eike vender uma fatia adicional de US$ 300 milhões na EBX para a General Electric Co. em maio. A onda de vendas chegou ao ponto mais crítico quando a OGX anunciou no mês passado que estava cortando as metas de produção para seus primeiros dois poços em até 75 por cento, intensificando as dúvidas de investidores.

“O que é de fato verdade? E o que é só o fato de ele ser um ótimo vendedor?”, perguntou Henrique de La Rocque, que administra R$ 300 milhões na Brasif Gestão de Recursos no Rio de Janeiro. Ele disse que vai manter suas ações da OGX pelo menos até o“pânico” se reduzir.

Na nota enviada por e-mail, a EBX citou seus 30 anos de empreendimentos no desenvolvimento de oito minas de ouro e de uma mina de prata no Brasil, Canadá e Chile.

Eike foi atrás de -- e abandonou -- diversas companhias ao longo de sua carreira. Em 1999, ele vendeu um negócio no setor de água para uma unidade da Enron Corp. por US$ 55 milhões, dizendo à Bloomberg News após o acordo: “O ouro é uma indústria jurássica. A água é a indústria do século 21.”


"Encontrar investidores"
O sucesso de Eike vem do fato de ele encontrar os projetos certos e escolher boas equipes, de acordo com Carl Hansen, que passou uma década trabalhando com Eike na TVX Gold Inc. em Toronto nos anos 90.

“Sem dúvida ele tem talento para identificar ativos subvalorizados, aumentar o valor desses ativos fazendo o trabalho que tem de ser feito, e então encontrar os investidores para tocá-los adiante”, disse Hansen, que trabalhou para a TVX primeiramente como geólogo e depois como diretor de relações com investidores.

Como presidente e maior acionista da TVX, Eike levou o valor de mercado da companhia a um pico de mais de US$ 1,7 bilhão em 1996, investindo em projetos por todo o mundo. Uma série de processos jurídicos e cinco anos de queda no preço do ouro derrubaram o valor de mercado da empresa para menos de US$ 150 milhões no fim de 2000.

Hoje, com o desaquecimento da China derrubando os preços de matérias-primas, Eike injetou R$ 2,6 bilhões no projeto do Porto do Açu, da LLX Logística SA, no Rio de Janeiro. Em março de 2010, ele disse que o complexo seria uma “estrada para a China” quando estivesse concluído.

Diz o ditado que o Brasil é o país do futuro, sempre será. Nos últimos seis anos, Eike tentou vender a ideia de que o futuro do Brasil finalmente chegou, de acordo com Nocera, o ex- economista do FMI.

“Foi uma história de marketing maravilhosa”, disse Nocera. “Quando você faz ume de promessas, tem que cumprir mais cedo ou mais tarde.”


FONTE: http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/perda-de-us-15-bi-por-eike-marca-fim-de-sonho-brasileiro?page=1