quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Força Nacional protege testemunhas da morte de ambientalista no Pará



Uma equipe da Força Nacional foi enviada para Altamira (PA) para garantir a proteção a duas testemunhas da morte do comerciante e ambientalista João Chupel Primo, 55 anos, conhecido como João da Gaita. Ele foi morto com um tiro na cabeça em sua oficina, onde também morava, em Itaituba (PA), neste sábado (22). Ninguém foi preso.

A Coordenação Regional do Programa de Proteção à Vida da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), no Pará, incluiu o extrativista Raimundo Belmiro, entre os cidadãos a serem protegidos após a morte de João da Gaita. Oito policiais da Força Nacional vão ficar na região por cerca de 90 dias.

O Ministério Público Federal (MPF) tem três procuradorias atuando no caso, em Altamira, Belém e Santarém. No último sábado, após as denúncias protocoladas por João da Gaita, pediu que a Polícia Federal abra inquérito para investigar os crimes ambientais na região.

Segundo o delegado Silvio Maués, João da Gaita teria perdido recentemente uma terra, que era de sua propriedade, em uma reserva ambiental.

Ao G1, Maués disse que o comerciante fez uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) sobre exploração ilegal de madeira na região da reserva extrativista de Riozinho do Anfrisio e da Floresta Nacional do Trairão, mas descartou que ele tivesse envolvimento com "grupos rurais, ambientalistas e agrários. Nossa hipótese preliminar é que a morte possa estar relacionada a interesses econômicos e a disputa de grupos de madeireiros”, afirmou o delegado.

Grilagem de terra
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Santarém (PA), informou que João da Gaita denunciava a grilagem de terras e extração ilegal de madeira, feitas por um consórcio criminoso. "Ele coordenava a comunidade católica de Miritituba, em Itaituba. Ele registrou vários boletins de ocorrência, sobre as ameaças que vinha sofrendo, tanto para a Polícia Civil como para a Polícia Federal", disse Gilson Rêgo, coordenador da CPT santarena.

Antes de sua morte, João da Gaita assinou um documento com uma série de denúncias sobre a grilagem de terras na região. Outro presidente de uma associação do assentamento local, que também denunciou a grilagem de terra e a extração ilegal de madeira, também está ameaçado de morte, e já foi retirado da região pela Polícia Rodoviária Federal.

Rêgo explicou ainda que Primo denunciou várias vezes que a região invadida por madeireiros ilegais fica perto das BRs 163 e 230 (Transamazônica) e Vicinal do Brabo. "O nstituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade [ICMBio] fez uma operação com apoio da PF e do Exército na região, mas deixaram a ação de lado depois de um dos integrantes da mobilização trocou tiros com um integrante da segurança dos madeireiros e depois ficou cinco dias perdido na mata. Nos abandonaram depois disso", afirmou Rêgo.

Segundo documentos do MPF, João da Gaita relatou que madeireiros vinham usando o assentamento como porta de entrada para as matas ainda relativamente preservadas e que fazem parte do Mosaico de Conservação da Terra do Meio.

Justiça rápida
Primo chegou a denunciar a retirada de 15 a 20 caminhões de madeira por dia daquela área. O bispo de Itaituba, dom Frei Wilmar Santin, disse ao G1 que espera que seja feita Justiça no caso da morte do ambientalista. "A polícia agiu no caso da irmã Dorothy Stang e esperamos que a investigação também consiga punir os culpados por essa morte. Quantas vidas mais vamos perder por conta de questões da terra?", disse o religioso.

Segundo o ICMBio, no período de 9 de setembro a 16 de outubro deste ano, Raimundo Belmiro chegou a receber a proteção de dois policiais, um civil e outro militar.