terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cultivo do eucalipto no Brasil cresce na medida do conflito com o alimento

LAÉRCIO COUTO


O crescimento da população e o desenvolvimento econômico e social de países emergentes como Brasil, Rússia, Índia e China levaram ao aumento da demanda por alimentos, energia e produtos originários do setor florestal.

O suprimento dessa demanda se depara com o dilema alimentos versus madeira, como matéria-prima para os diversos produtos de origem florestal. Isso porque as terras produtivas são um recurso natural finito e que devem ser alocadas de maneira a otimizar seu uso. A preocupação mundial com as mudanças climáticas e a necessidade de redução das emissões de gases do efeito estufa, levam, por exemplo, nações da Europa a estabelecer novas legislações para a substituição de combustíveis fósseis por biomassa de fontes renováveis, como os "pellets torreficados" nas grandes termelétricas a carvão mineral e por "pellets tradicionais" no aquecimento de casas nos países onde o inverno é rigoroso.

Estima-se que haverá -a médio e longo prazos- grande demanda por "pellets", principalmente de madeira.

O Brasil, com disponibilidade de cerca de 200 milhões de hectares de terras utilizadas como pastagens e que são propícias para o reflorestamento, se torna candidato natural a ser grande fornecedor de biomassa para o mundo, tanto para energia como para a produção de celulose e papel, para chapas de fibras e aglomerados, e produtos sólidos de madeira.

Além disso, o Brasil vem cultivando há mais de cem anos espécies do gênero Eucalyptus e que se prestam aos mais diversos usos. O setor de celulose e papel demanda grandes áreas de terras disponíveis para o plantio de eucaliptos, bem como água em quantidade suficiente para os processos industriais. A necessidade de grandes extensões contínuas de terras tem levado empresas a buscar áreas em Estados como Mato Grosso do Sul, Maranhão e Piauí.

A capacidade que os eucaliptos têm de se desenvolver em solos considerados marginais para a agricultura permite que as empresas estejam estabelecidas em regiões onde existem outras atividades agropecuárias, como São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Por outro lado, a possibilidade da consorciação de eucaliptos com pastagens, na forma de sistemas silvipastoris, permite a convivência da pecuária com o reflorestamento com eucaliptos e outras espécies na maior parte das regiões onde existe também a atividade pecuária.

LAÉRCIO COUTO é professor titular aposentado pela Universidade Federal de Viçosa, professor-adjunto da Universidade de Toronto e integrante do conselho da World Bioenergy Association.